Já tive a oportunidade de comentar sobre importância dos seguros rurais como mecanismo de crescimento e proteção do patrimônio do produtor rural¹. Assim como os seguros fazem parte da gestão de riscos no agro, outros instrumentos também podem mitigar riscos de perdas financeiras e de patrimônio para os produtores rurais. É o que abordaremos nesse artigo, especialmente com relação à proteção de preços das commodities do agronegócio, conhecidos como derivativos.
Primeiramente cabe conceituar o que são commodities e derivativos:
Commodities, termo originado do inglês commodity, que significa mercadoria. São produtos padronizados, produzidos em escala, que podem ser estocados e negociados em qualquer parte do mundo, podendo servir como matéria-prima para alimentos. Soja, milho, trigo, café, boi gordo e suco de laranja são algumas das commodities negociadas no mercado. Ouro, minério de ferro e petróleo são outras commodities negociadas como matéria-prima para a indústria de transformação.
Já os derivativos são contratos estabelecidos tanto no mercado organizado (ex., bolsas de valores) como no mercado de balcão (ex., entre produtores e cooperativas, cerealistas etc.) no qual se estabelece um valor econômico derivado do seu valor temporal através de um ativo base como referência.
Os derivativos do agro como instrumentos de proteção de preços, visam dar certa previsibilidade nas receitas financeiras dos produtores rurais, justificados principalmente nos cenários de flutuação dos preços das commodities mundo afora.
Vejamos o exemplo do conflito entre Rússia e Ucrânia: os preços dos fertilizantes, matéria prima usada para o plantio aqui no Brasil, assim como a cotação do trigo produzido na Ucrânia, explodiram devido às dificuldades no transporte desses produtos.
Importante ressaltar que todos os players envolvidos no agronegócio usam os derivativos como instrumentos de proteção, não se limitando apenas aos produtores rurais. Estes usam para se proteger contra a queda de preços, já as empresas que compram as commodities usam os derivativos para se proteger contra a alta dos preços.
Agora vamos conceituar os instrumentos derivativos usados no agronegócio:
Começando pelo contrato a termo, são contratos não padronizados entre duas partes, que estabelecem o prazo de entrega ou compra futura de determinado produto a um determinado preço já definido na negociação. Muito usado entre empresas e produtores rurais, que por sua vez entregam sua produção numa quantidade e prazo combinados, sendo que o produtor recebe o valor acordado na negociação, independente de quanto está valendo o preço do produto entregue naquele momento.
Já os contratos futuros são aqueles derivados de produtos agropecuários negociados por meio de contratos de compra e venda padronizados, com prazos e condições definidas pelas bolsas de valores. Mercados de boi gordo e café usam muito os mercados futuros.
A diferença é que os mercados futuros exigem depósitos de margem de garantia nas corretoras, devido aos ajustes diários que ocorrem nos preços negociados na Bolsa de Valores. Mas, no final do contrato, são garantidos os valores acordados previamente na negociação para recebimento, independentemente de como está o mercado no momento.
O contrato de opções é mais um tipo de derivativo, mediante pagamento de um prêmio (seguro) a que confere ao titular comprar ou vender um ativo agropecuário negociado na bolsa de valores por um valor determinado. Se lá no vencimento o preço na bolsa estiver abaixo do que havia travado na época da compra da opção, o produtor terá o direito de exercer aquele preço acordado no início, e receberá a diferença.
Agora, se o preço no vencimento estiver superior do negociado lá na compra da opção, ele não exerce a opção, pois ele será beneficiado com a alta dos preços no mercado e venderá sua parcela de produção, obtendo melhor resultado.
Mercado de opções funciona de forma similar ao seguro de carro: se teve perdas ou danos, será indenizado, senão você só teve como custo o pagamento do seguro, para exercer o direito de uso quando houver um sinistro.
É praticamente um consenso entre especialistas do setor que é recomendado usar os instrumentos derivativos para proteger parte da produção agropecuária do produtor rural, principalmente no sentido de travar os custos de produção, na quantidade proporcional que venha a cobrir estes custos. Já o restante da produção, recomenda-se aproveitar estratégias de comercialização que possam garantir a maximização dos retornos financeiros.
O desafio maior é que a maioria dos produtores rurais desconhecem e temem pelo uso desses instrumentos com receio de perder dinheiro. No passado já presenciei situações em que produtores foram mal orientados a fazer determinado instrumento que remeteram a perdas financeiras. E aí o que aconteceu: tiveram uma experiência amarga, e ainda contaram para os demais que a solução não serve e que nunca será útil. Outros, acabaram especulando sem o conhecimento devido e se deram mal também.
Portanto é preciso disseminar entre a classe de produtores rurais que os derivativos são instrumentos que visam uma estratégia de proteção, desde que sejam bem utilizados.
Pode-se especular nos mercados derivativos? Sim, claro que pode. Mas isso exige grande conhecimento e assessoria especializada para poder operar.
1) https://www.b18.com.br/o-seguro-como-mecanismo-de-crescimento-e-protecao-do-patrimonio-do-produtor-rural/) e Revista Seu Patrimônio – Ed Maio 2022
José Luís Bassani é economista, professor universitário e planejador financeiro pessoal com foco em planejamento patrimonial e sucessório para produtores rurais.
O planejamento patrimonial e sucessório do produtor rural é tema abordado no nosso best-seller PLANEJAMENTO PATRIMONIAL, exclusividade da Editora B18: