Aproximadamente, 90% das empresas brasileiras têm perfil familiar, quando as quotas do capital estão sob o controle de uma ou mais famílias. Portanto, a empresa familiar é o legado dos fundadores. O grande desafio desse tipo de empresa é continuar prosperando enquanto enfrenta a sucessão da gestão, pois somente 13% dessas empresas sobrevivem até a terceira geração.
Em meio a toda essa jornada interna, a empresa familiar, além de enfrentar os desafios do negócio, da operação do dia a dia, deve também se preocupar com as novas prioridades para garantir o seu legado e construir confiança com um novo stakeholder, o público em geral, além dos tradicionais: membros da família empresária, clientes e colaboradores.
A recente Pesquisa Global de Empresas Familiares 2023[1], da PwC, apontou que as empresas familiares devem ser mais ativas em construir confiança, principalmente, com seus colaboradores e o público em geral, pois a maioria dos clientes e colaboradores pertencem aos millenials (nativos digitais que aspiram liberdade e flexibilidade) e à geração z (tecnológicos que aspiram segurança, estabilidade e se preocupam com as mudanças climáticas), entes que consomem informação de outra forma e têm valores diferentes das gerações anteriores. E nem foi mencionada a geração alpha (atuais crianças) que, ao se tornarem jovens e consumidores, por aspiração, preferirão comprar de empresas que fazem diferença positiva no mundo.
A Pesquisa buscou detectar lacunas de confiança nas empresas familiares, por meio de quatro pilares: competência (a empresa é boa no que faz?), motivo (a quem serve?), meio (como atinge seus objetivos?) e impacto (resultados reais x resultados planejados), evidenciando que elas precisam de transformação para perpetuar o legado.
Consequentemente, para alcançar as novas gerações, a empresa familiar além de ter excelência em seus produtos/serviços e ter sua história e marca reconhecidas, deve comunicar melhor suas realizações, transmitir seu propósito e valores, manifestar-se sobre questões sociais, ter presença nas redes sociais, comunicar-se melhor e ter compromissos ESG e DEI (diversidade, equidade e inclusão). Essas ações visam a construção e o aumento da confiança das pessoas que estão em torno da empresa familiar, sejam elas membros da família, clientes, colaboradores ou o público em geral, visto que o aumento da confiança nos negócios da empresa, contribuirá para aumentar a lucratividade e, consequentemente, a sua perpetuidade.
Ter compromisso ESG (sigla para Environmental, Social and Governance – sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa) é adotar práticas empresariais para se obter um mundo mais ético, economicamente mais inclusivo e ambientalmente mais sustentável, alinhando lucro, propósito, transparência, estruturas formais de governança corporativa e responsabilidade legal. Logo, a empresa existe para beneficiar a todos e não somente a família empresária, com marcas que transmitem valor por meio de seus produtos e serviços, tornando-se atraente a investidores, consumidores e colaboradores, por meio do selo da chamada certified B Corporation (B Corp), Empresa B certificada.
Portanto, a Pesquisa demonstra que para a empresa familiar aumentar as chances de perpetuidade, deve construir confiança com os membros da família, clientes, colaboradores e público em geral, mediante ações de boa comunicação e mecanismos de feedback, transparência com a divulgação de relatórios públicos de desempenho financeiro e não financeiro, como as métricas ESG e DEI, manifestação em questões sociais e melhor divulgação de suas conquistas.
Dessa forma, aumentando sua exposição no mercado como um todo, com o intuito de proteger seu legado e garantir sua continuidade.
[1] Disponível em: https://www.pwc.com.br/pt/estudos/setores-atividade/empresas-familiares/2023/pesquisa-global-de-empresas-familiares-2023.html
Adele Fonteles Lopes, advogada, administradora de empresas, com LLM em Direito Empresarial pelo Ibmec-RJ e especialista em direito societário. Sócia da Fonteles Advocacia Empresarial em Fortaleza/CE.
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