Por Walter Moreira Neto, CFP®
Se você já investe, provavelmente você utiliza uma dessas duas maneiras: ou você cuida do seu dinheiro, ou você delega para alguém fazer isso. Se você se inclui no primeiro grupo, a pergunta que faço é: quão confortável você está de que a sua estratégia de investimento vai proporcionar a rentabilidade necessária para você viver bem? Se você fizer parte do segundo grupo, a questão a responder é: o quão confortável você está com as recomendações de investimento do seu assessor financeiro?
Se você já cuida dos seus investimentos, provavelmente já se perguntou:
- Será que eu tenho habilidade técnica suficiente para fazer a gestão dos meus investimentos?
- Será que eu tenho tempo para aprender essa habilidade técnica requerida para fazer essa gestão de maneira eficiente?
- Ou, ainda, será que aquele investimento da moda, como as criptomoedas, é importante para minha carteira? Ou será que é o momento de me posicionar nesse ativo?
Essas são algumas dúvidas que surgem na cabeça de quem investe sozinho…
Por outro lado, você que já possui uma assessoria, a dúvida que aparece é se a estratégia adotada vai ao encontro dos seus interesses, gerando retorno e segurança para você precisa para ter uma vida melhor. Em outras palavras, o quão confiante você está de que os produtos financeiros que lhe são oferecidos são realmente do seu interesse e não decorrem de comissões que seu assessor está recebendo?
É importante colocar na mesa e entender se há alguma maneira melhor e mais eficiente de fazer isso. Porque, possivelmente, a ajuda de um consultor financeiro pode ser interessante.
Por que ter um consultor financeiro?
Normalmente as pessoas pensam: “será que eu preciso mesmo da ajuda de um consultor financeiro?” Esta indagação é normalmente respondida com a premissa de que se você for pagar por um consultor financeiro, ele precisa entregar um retorno maior do que você conseguiria sozinho. Caso contrário, pagar um consultor não vale à pena, pensa você.
Poderíamos fazer uma analogia (imperfeita, diga-se) com a contratação de personal trainer. Você só precisa de um personal trainer se ele conseguir melhorar os seus resultados, sua saúde, e o seu corpo mais do que você conseguiria fazendo tudo sozinho. Se ele fizer um trabalho que não melhore os resultados pretendidos, então não vale à pena gastar dinheiro com esse profissional.
Todavia, no mercado financeiro, o buraco é um pouco mais embaixo, pois não há garantias de quanto você vai receber a mais por um determinado serviço.
Então, você não sabe se aquele consultor financeiro vai conseguir te dar um retorno de 12% ou 13% ao ano, enquanto você sozinho não consegue mais do que 6%. Não dá para ter garantia, mas é possível estimar.
Existem estudos que dizem que você consegue, sim, estimar qual é o tamanho do benefício que o consultor financeiro consegue adicionar para os seus investimentos. Segundo estudo da Vanguard[1], uma das maiores instituições financeiras do planeta, a ajuda de um bom consultor financeiro consegue adicionar até 3% de incremento no retorno da sua carteira de investimentos.
Então, agora ficou mais fácil. Se o consultor conseguir incorporar e incrementar 3% de retorno na sua carteira e ele cobrar menos do que 3%, faz sentido ter um consultor financeiro, correto? Errado!
O papel do consultor financeiro
De maneira geral, as pessoas pensam que o consultor financeiro vai te mostrar quais são as melhores oportunidades de investimento, aquelas a que você não tem acesso, e que por isso vai melhorar a sua rentabilidade. Não é esse o grande papel do consultor. Não é aí que ele irá te gerar o maior valor agregado.
O consultor financeiro pode ajudar o cliente em várias frentes. E sim, é esperado um aumento de retorno e de rentabilidade, mas por vias diferentes do que as pessoas geralmente imaginam, como escolhas de produtos que elas não têm acesso. O consultor irá olhar o seu patrimônio como um todo para entender o que você precisa e buscar de diversas formas ter um pouquinho de retorno acumulado em cada uma das áreas.
Na verdade, o principal papel da consultoria financeira é a preservação de capital, e não simplesmente um incremento absurdo na rentabilidade. Isso porque a preservação de capital ao longo do tempo é tão ou mais importante do que o retorno.
A grande maioria dos investidores de sucesso se preocupam muito mais em não cometer grandes erros ao investir do que tentar acertar aquele investimento que vai fazê-los multimilionários de uma única vez. Para a Vanguard, o maior valor adicionado de um consultor não é na seleção de ativos, mas sim na alocação de capital. Ou seja, esses 3% de valor agregado pelo consultor financeiro vêm de outras áreas, como as finanças comportamentais. Como Warren Buffet diz em seu livro Warren Buffet Speaks “investir não é um jogo no qual aquele com QI de 160 ganha daquele com QI de 130. A racionalidade é o aspecto essencial”.
Finanças comportamentais
Um dos benefícios de uma consultoria financeira é que ela pode ajudar com finanças comportamentais. Esse é um tema muito interessante e muito estudado hoje em dia. E é um dos maiores pontos que contribuem para esse resultado de até 3% de retorno adicional. Segundo o estudo da Vanguard, cerca de 1,5% desse retorno decorre de conhecer os vieses comportamentais (armadilhas) e conseguir evitá-los.
Por exemplo, se você tem uma carteira que rende 10% ao ano durante 20 anos, no caso de uma carteira de 10 milhões, lá no final, terá algo em torno de 67 milhões. Se ao invés de 10%, você conseguir obter 12% ao ano durante o mesmo período, você terá 96 milhões ao final de 20 anos. Ou seja, apenas com 2% de retorno a mais ao ano faz uma grande diferença no final.
O viés comportamental é um atalho de raciocínio que o cérebro toma para que possamos tomar decisões de uma maneira rápida. Imagine que você esteja na rua andando e de repente vê uma multidão de pessoas correndo na sua direção. Você provavelmente não irá parar para pensar no porquê aquelas pessoas estão correndo; você vai correr também. Isso é um viés comportamental, você toma decisões de forma muito rápida.
Apesar de ter alguma serventia em certas situações, em matéria de investimentos o viés comportamental pode ser a maneira rápida de tomar a decisão errada. Decisões sobre investimentos devem ser baseadas em análises, fatores e considerações sem deixar que nosso afã atropele a sua execução.
Um desses vieses é o viés da disponibilidade que ocorre com frequência quando o assunto é gestão patrimonial e investimentos. Em síntese, quanto mais rápido você consegue lembrar de um exemplo para um determinado acontecimento, mais provável, na sua mente, de ele irá ocorrer.
Exemplo recente aconteceu na Eurocopa. Cristiano Ronaldo, um dos maiores jogadores de futebol do mundo, trocou uma garrafa de Coca Cola por uma garrafa de água durante uma entrevista. Mas o que isso tem a ver com investimentos? Tudo. Rapidamente, as ações da Coca Cola caíram 4 bilhões de dólares em valor de mercado, ainda que a garrafa de água que CR7 colocou na sua frente também fosse envasada e vendida pela mesma Coca-Cola. Se eu perguntar hoje se é arriscado investir nas ações da Coca Cola, é bem possível que várias pessoas respondam ‘sim’ ou que não é tão seguro assim, pois Coca Cola não é uma bebida saudável. Mas, quando você para e pensa um pouco mais, você entende que as pessoas não vão deixar de consumir Coca Cola simplesmente porque o Cristiano Ronaldo mexeu na garrafa durante uma entrevista.
Sendo assim, é importante você entender que há um viés ali e que as pessoas viram as ações caindo e por isso passaram a se desfazer das ações de uma empresa que vende um produto, que gera lucro e pode ser um bom investimento a longo prazo. Um consultor financeiro pode ajudar a identificar esse viés e fazer com que você permaneça investindo, ou até se aproveite de situações como essa para adquirir mais ações por um preço mais baixo.
O valor do consultor financeiro para você
Você deve olhar para um consultor financeiro como um clínico geral. Uma pessoa que vai gerar valor agregado, mas não apenas para olhar os seus investimentos. Um bom consultor financeiro tem que conhecer o seu planejamento patrimonial, tributário, sucessório, investimentos no exterior, crédito, enfim.
Ele pode recomendar um seguro importante para você e que você não tem, ou cancelar um outro seguro que você não precisa, montar uma carteira de investimentos que seja interessante para o longo prazo, focando em preservação de capital. Aliás, se você quer contratar um consultor porque ele vai te gerar mais rentabilidade, esqueça, não é esse o papel do consultor. Ele não vai gerar uma rentabilidade do dia para a noite e tampouco deixar você rico num piscar de olhos com um investimento mirabolante. Não é esse o papel de um bom consultor financeiro.
Se você vai num bom médico e diz que está com dor de cabeça, ele irá te examinar, pedir alguns exames, e aí sim chegará com um diagnóstico e com um tratamento adequado. Ele pode até prescrever um medicamento que você pensou no começo, mas fará isso apenas após uma série de pesquisas sobre o que você tem, e não te prescrever um remédio sem investigar. O consultor financeiro vai fazer a mesma coisa.
Como acessar um bom consultor financeiro?
A primeira coisa que você precisa saber é se o seu candidato a consultor é, de fato, um consultor financeiro habilitado. Existem diversas terminologias no mercado, tais como, assessor de investimentos, coach financeiro, gestor de patrimônio, gestor especialista, e várias outras. Mas, o verdadeiro consultor financeiro é aquele registrado Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A CVM é uma autarquia que cuida dessa parte de regulação do mercado financeiro no Brasil.
Outra certificação importante é a certificação CFP (Certified Financial Planner). Trata-se de uma certificação internacionalmente reconhecida e que, no Brasil, é concedida pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (PLANEJAR) mediante a aplicação de uma prova e participação de educação continuada. A certificação CFP diz que aquele profissional é competente e abrange tudo que é necessário para fazer um planejamento financeiro e uma alocação de recursos.
Forma de remuneração do consultor
É muito importante saber qual é a forma de remuneração desse consultor. Se ele for um consultor que recebe comissão de produtos ofertados aos clientes, o consultor pode ter algum conflito de interesse em relação a recomendar ou a indicar um produto financeiro que seja mais rentável para o bolso dele e não para o seu.
O mais interessante é que quem remunere o consultor seja você, que você saiba exatamente quanto está pagando pela consultoria financeira, evitando assim um potencial conflito de interesses.
Conclusão
Se você entende que você não possui as habilidades técnicas para lidar com seu patrimônio e não tem tempo para aprendê-las, e se você consegue enxergar valor agregado numa consultoria, talvez tenha chegado a hora de você considerar obter ajuda de um consultor financeiro.
Walter Moreira Neto, CFP®, é consultor financeiro registrado da CVM, mestre em investimentos internacionais, e fundador e CEO da Overclub Family Office.
[1] Leia o estudo em http://static.twentyoverten.com/the-added-value-of-financial-advisors.1465329922518.pdf