Por Caco Santos CFP®
Você conhece mais alguém além de mim que se fez milionário aos 16 anos por meio do próprio trabalho? Permita-me contar brevemente essa história.
Nasci numa família de classe média em São Paulo. Não tive educação financeira formal (como praticamente todos de minha geração) e nem mesada. Desde cedo decidi que gostaria de ganhar meu próprio dinheiro. Dei aulas particulares e aulas de computação. Guardava tudo numa conta-poupança e me lembro como se fosse hoje a sexta-feira em que depositei os cheques da semana e peguei o extrato: saldo de 7 dígitos. Minha felicidade foi extrema, afinal era um milionário!
Na noite daquela mesma sexta-feira de fevereiro de 1986, o presidente Sarney anunciaria o Plano Cruzado e cortaria três zeros da moeda nacional. Passado o fim-de-semana, caí na minha realidade de adolescente não-milionário. Entendi que precisaria trabalhar muito mais e conhecer mais a fundo o mundo das finanças. Comecei a ler a parte de economia do jornal e acompanhava as ações de destaque no mercado: a Paranapanema dominava os pregões junto com Telebrás e CVRD.
Desde então o Brasil teve mais seis planos econômicos e três outras moedas até chegarmos ao nosso Real de hoje. A CVRD virou Vale, a Telebrás foi desmembrada e vendida. A Paranapanema continua a lidar com cobre, mas nem de longe tem o mesmo protagonismo da bolsa (que era Bovespa, agora é B3) de outrora. O mesmo aconteceu com todas as outras empresas não listadas, com todos os outros negócios, com títulos de renda fixa, preços de imóveis.
Até poucos anos atrás, não precisávamos nos preocupar muito com rentabilidade de investimentos, porque os juros reais de quase 10% ao ano faziam qualquer conta de aposentadoria fechar.
Hoje, temos juros reais negativos, algo que não imaginei que veria no Brasil. Mas sei que não ficará assim. Afinal, “a única constante é a mudança”, já proferia Heráclito de Éfeso há 25 séculos! Mesmo com essa certeza, muitas vezes nos descuidamos de nosso patrimônio, como se o que foi bom ontem continuasse a ser bom hoje ou amanhã.
Até agora mencionei investimentos líquidos em renda fixa e variável, mas é importante sempre pensar que nosso patrimônio é composto por um conjunto de ativos. Ele pode incluir, também, imóveis, negócios próprios, obras de arte, investimentos em startups, previdências etc.
Quando pensamos nos bens como uma carteira de investimentos, valem os mesmos princípios que gestores de fundos comumente usam em seu dia-a-dia, mas que são normalmente negligenciados por indivíduos. Ora, finanças são finanças, e os mesmos temas devem ser igualmente levados em consideração por empresas, fundos, países, famílias e indivíduos.
De tempos em tempos, precisamos reavaliar nosso portfólio, testar se as hipóteses de investimentos continuam válidas, ajustar balanceamentos: entre renda fixa x variável, imobilizado x líquido, no Brasil x no exterior, de uso próprio x que gere renda, dentre outras classificações.
Dentre as centenas de famílias que já atendi em planejamento financeiro, vejo que isso raramente acontece.
Os grandes vilões costumam ser apego emocional (principalmente com bens herdados), uma alegada falta de tempo, “preguiça” de mexer com assuntos muitas vezes complexos e espinhosos, uma complacência em achar que tudo ficará bem.
Neste último caso, exemplo clássico são os de altos executivos que recebem parte de sua remuneração em ações das empresas em que trabalham. Frequentemente não as vendem mesmo depois de saírem dos empregos, deixam de observar períodos de vesting, perdem oportunidades de melhor alocação ou de construir portfólios que tenham riscos diluídos.
Em suma, há normalmente dificuldade de separar as emoções da razão.
Planejadores financeiros até pouco tempo atrás só eram acessíveis para possuidores de grandes fortunas. Hoje, famílias e indivíduos de diversos patamares de renda e patrimônio (inclusive endividados) têm acesso a contratar especialistas para auxiliá-los com suas finanças.
Com atuação independente de qualquer instituição financeira e sem vender produtos, o planejador financeiro analisa, de forma fiduciária, cada situação e tendo a capacidade e conhecimento técnico para recomendações e análises isentas. Não raro, o planejador financeiro fomenta conversas entre membros da família para que cheguem a consensos e cuidem adequadamente dos seus ativos.
Se necessário, procure um planejador de sua confiança. O valor do trabalho normalmente supera em muito seu custo!
Com ajuda profissional ou por conta própria, o importante é que a análise criteriosa e frequente de seus bens e investimentos trará consciência sobre seu patrimônio. Com maior consciência, tomará melhores decisões e, com elas, virão melhores resultados.
Cuide sempre de seu patrimônio, para que ele possa cuidar de você.
Caco Santos CFP® é planejador financeiro pessoal especializado em sucessão e riscos e Líder de Equipe na GFAI.