Pouco comentada, a gestão de riscos no agronegócio é questão relevante para a solvência e preservação do patrimônio do produtor rural. O produtor já está sujeito às intempéries naturais que não controla e, por essa razão, não pode desprezar eventos adversos que podem ser evitados ou, ao menos, mitigados.
Já tive a oportunidade de comentar [1] [2] sobre alguns instrumentos e ferramentas para gestão de riscos patrimoniais no agronegócio e, para conclusão desta trilha, vou citar mais situações passíveis de riscos e que podem trazer perdas patrimoniais por descumprimento de normas e procedimentos no âmbito da atividade rural.
Vamos a elas:
Cabe aqui dar um destaque para o (des)cumprimento das exigências ambientais, as quais acredito ser das mais relevantes. Em tempos de COP 27 no Egito e de discussões sobre mudanças climáticas, o tema ambiental recebe ampla cobertura da mídia nacional e internacional.
A necessidade de estar com as licenças ambientais em dia evita a suspensão das atividades. Portanto, é necessário fazer a gestão de vencimento das certidões ambientais para que não haja nenhum tipo de impedimento operacional. Sem contar os riscos de multas, que normalmente são pesadas, podendo acarretar perdas patrimoniais.
Exemplo disso é ter a atividade de produção de suínos embargada por existir risco de danos ambientais pela grande produção de dejetos, se não está sendo tratado de forma adequada ou até mesmo contaminando rios e lençóis freáticos. A irregularidade em si prevê suspensão das atividades e multa. A paralisação das atividades gera perdas patrimoniais por deixar de ter receita da operação, além dos custos fixos de manutenção das instalações e de funcionários.
A combinação entre as boas práticas ambientais e a regularidade nas certidões permite mitigar esses riscos.
Outra questão diz respeito ao quadro de colaboradores da fazenda, ponto de pouca atenção entre os empreendedores do agro. Os trabalhadores precisam operar máquinas e equipamentos, manejo de animais e outras atividades operacionais que podem gerar riscos à sua integridade física e laboral.
Para exemplificar, já soube de relatos de funcionários, e até mesmo de membros da família produtora, que perderam membros do corpo ou se machucaram seriamente em decorrência de acidentes de trabalho, provocando incapacidade temporária ou permanente das atividades laborais. Isso sem falar nas vidas ceifadas por sucção por equipamento de armazenagem, um coice fatal de um cavalo, ou que o maquinário acabou atropelando o trabalhador.
Agora, pens no transtorno de ser responsabilizado por não ter um instrumento de proteção (EPI) a vida do trabalhador contra acidentes de trabalho. Isso pode acarretar responsabilidade civil, reparação de danos à vítima ou aos seus familiares e, como consequência, perda patrimonial ao produtor. O uso de EPIs, somado ao treinamento adequado dos colaboradores dentro da fazenda são fatores mitigadores de riscos e de proteção patrimonial, ainda que indiretamente.
E, para finalizar, pense na seguinte situação: o produtor possui sócios no negócio, sejam eles membros da família ou não. Ocorrências como dissolução da sociedade por litígio decorrentes da falta de clareza ou transparência no processo de governança também é fato gerador de riscos de perdas patrimoniais. Exemplo clássico disso é no processo de dissolução ocorrer a perda de renda de ambos os lados pela divisão patrimonial, ou pela necessidade imediata de adquirir a parte de quem está saindo da sociedade.
Além das incertezas da natureza, a atividade rural é rodeada de riscos que podem prejudicar a geração de renda e a preservação do patrimônio rural do produtor. O primeiro passo é reconhecer a sua existência para, em seguida, adotar medidas para a sua mitigação.
Espero que esta série de publicações possa conscientizar os produtores rurais a respeito da gestão de riscos que podem afetar seu patrimônio.
[1] https://www.b18.com.br/o-seguro-como-mecanismo-de-crescimento-e-protecao-do-patrimonio-do-produtor-rural/
[2] https://www.b18.com.br/gestao-de-riscos-no-agro-instrumentos-mitigadores-e-consequencias-ao-patrimonio-do-produtor-rural/
José Luís Bassani é economista, professor universitário e planejador financeiro pessoal com foco em planejamento patrimonial e sucessório para produtores rurais.
O planejamento patrimonial e sucessório do produtor rural é tema abordado no nosso best-seller PLANEJAMENTO PATRIMONIAL, exclusividade da Editora B18: