Independente do tamanho do empreendimento rural, é necessário ter um acompanhamento durante a vida útil dos bens móveis utilizados na propriedade rural.
Vejamos alguns pontos relevantes na gestão patrimonial das máquinas e equipamentos do produtor rural.
1) Performance dos equipamentos:
A gestão da performance de máquinas e equipamentos agrícolas é fundamental para maximizar o retorno da produção agrícola. Essa gestão envolve o monitoramento constante da operação das máquinas e equipamentos, identificando possíveis problemas e ajustando os parâmetros de operação para garantir que eles estejam operando com máxima eficiência.
Essa gestão inclui o acompanhamento da eficiência dos equipamentos ao longo da sua vida útil, incluindo o seu consumo, desgaste, tempo de utilização, tempo que fica parado para manutenção etc.
Uma gestão eficiente da performance das máquinas e equipamentos agrícolas pode trazer inúmeros benefícios para o produtor rural. Por exemplo, ao garantir que as máquinas estejam operando com máxima eficiência, é possível reduzir o tempo de operação e o consumo de combustível, o que resulta em uma economia significativa. Além disso, a gestão da performance pode reduzir a necessidade de manutenção corretiva, aumentando a vida útil das máquinas e reduzindo os custos de manutenção.
Existem diversas tecnologias disponíveis para a gestão da performance de máquinas e equipamentos agrícolas. Uma delas é a telemetria, que permite monitorar remotamente o desempenho das máquinas e equipamentos em tempo real, identificando possíveis problemas e otimizando a operação. Além disso, a telemetria pode ser usada para coletar dados sobre o desempenho das máquinas e equipamentos ao longo do tempo, permitindo análises mais detalhadas e identificação de tendências.
Outra tecnologia que pode ser usada na gestão da performance de máquinas e equipamentos agrícolas é a inteligência artificial. Através do uso de algoritmos avançados, a inteligência artificial pode analisar grandes volumes de dados e identificar padrões que não seriam detectados por um ser humano. Isso permite que a gestão da performance seja ainda mais precisa e eficiente, maximizando o retorno da produção agrícola.
Um exemplo de como a gestão da performance pode maximizar o retorno da produção agrícola é a utilização de sensores para monitorar a umidade do solo. Com essa tecnologia, é possível ajustar a operação das máquinas e equipamentos agrícolas de acordo com as condições do solo, garantindo que as plantas recebam a quantidade ideal de água. Isso pode aumentar a produtividade da lavoura e reduzir o consumo de água, o que é especialmente importante em regiões com escassez hídrica.
2) Programação das revisões para manutenção periódica:
As revisões periódicas são essenciais para manter as máquinas em bom estado de conservação e funcionamento, evitando problemas que podem causar a interrupção das atividades agrícolas. Além disso, a manutenção preventiva reduz os custos de manutenção, já que falhas podem ser detectadas antes que se tornem mais graves e onerosas. Dessa forma, a revisão periódica é um investimento que pode evitar prejuízos financeiros ao produtor rural.
Existem diversos exemplos de como a revisão periódica de máquinas agrícolas pode reduzir os custos de manutenção e prevenir perdas financeiras. Um estudo publicado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) em 2019, por exemplo, demonstrou que a revisão preventiva de colheitadeiras pode reduzir em até 30% os custos com manutenção, além de aumentar a vida útil das máquinas. Outro exemplo é um estudo realizado pela empresa CNH Industrial, que mostrou que a manutenção preventiva de tratores pode reduzir em até 20% os custos com peças e mão de obra.
Além disso, a revisão periódica pode evitar perdas financeiras decorrentes de paradas não programadas. Por exemplo, um equipamento que sofre uma falha durante o trabalho pode interromper as atividades agrícolas por horas ou até mesmo dias, o que pode causar prejuízos financeiros significativos. A manutenção preventiva, portanto, é uma forma de evitar paradas não programadas e garantir a continuidade das atividades agrícolas.
3) Estratégia de reposição dos equipamentos por novos e mais eficientes:
A reposição de máquinas e equipamentos agrícolas é uma estratégia importante para garantir a eficiência e a produtividade da produção agrícola. Com o avanço da tecnologia, novos equipamentos e máquinas mais eficientes estão disponíveis no mercado, trazendo benefícios significativos para o produtor rural.
Uma das principais razões para a reposição de máquinas e equipamentos agrícolas é a obsolescência tecnológica. Com o passar do tempo, os equipamentos podem se tornar ultrapassados, oferecendo menor eficiência e desempenho. Além disso, novas tecnologias surgem constantemente, trazendo melhorias significativas em termos de eficiência, precisão e redução de custos.
Ao optar pela reposição de máquinas e equipamentos agrícolas por outros novos e mais eficientes, o produtor rural pode obter inúmeros benefícios. Por exemplo, equipamentos mais modernos geralmente consomem menos combustível e requerem menos manutenção, o que pode resultar em uma economia significativa de custos. Além disso, máquinas mais eficientes podem aumentar a produtividade da lavoura, reduzir o tempo de operação e melhorar a qualidade do produto final.
Do ponto de vista financeiro, a reposição traz um desafio, pois o recomendável seria fazer a contabilização da depreciação como um fundo específico para reposição de máquinas, o que na prática nem sempre isso é seguido. Normalmente, quando o produtor necessita trocar uma máquina ou equipamento, ele vai até a revenda, compra uma nova, e financia, apesar de já ter visto produtores se programarem através de compra de cartas de consórcio, e outros, com compras à vista.
No entanto, é importante que o produtor rural faça uma análise cuidadosa antes de optar pela reposição de máquinas e equipamentos agrícolas. É necessário considerar fatores como o custo de aquisição dos novos equipamentos, o retorno financeiro esperado, a necessidade de financiamento e a disponibilidade de recursos. Além disso, é importante avaliar se a nova máquina ou equipamento realmente trará melhorias significativas em termos de eficiência e produtividade.
4) Importância de ter os bens móveis segurados:
Quando se financia um equipamento, é de praxe ele ficar vinculado em garantia através de penhor rural ou alienação fiduciária. Neste caso, é obrigatório a contratação de seguro penhor rural, que normalmente é mais barato que a contratação de um seguro à parte.
Muitos produtores adotam a estratégia de vincular máquinas e equipamentos como garantias complementares a um custeio agrícola, por exemplo, para fazer jus à contratação de seguro penhor rural.
5) Controle do inventário de máquinas e equipamentos:
Para quem não tem gerenciamento próprio de frota e de equipamentos, é possível um controle inicial dos dados por meio de uma planilha, que pode ser feita em casa por algum membro da família ou funcionário, ou também pelo projetista ou assistência técnica.
Descrição do bem, marca/modelo, número de chassi ou série, ano fabricação/modelo, se está alienado ou não, valor de avaliação etc., são alguns dos itens importantes a ser inserido nesse controle.
6) Máquinas e equipamentos fabricados a partir de 2016 :
Para máquinas e equipamentos agrícolas fabricados a partir de 2016 é obrigatório o Registro Nacional de Tratores e Máquinas Agrícolas (RENAGRO). O RENAGRO é um sistema de registro e certificação de tratores e máquinas agrícolas criado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), cujo objetivo é monitorar e controlar a movimentação de tratores e máquinas agrícolas no país.
Ele estabelece normas e procedimentos para o registro e a certificação dos tratores e máquinas agrícolas, que devem ser cadastrados no sistema antes de serem comercializados ou transferidos para outros proprietários. As empresas e pessoas físicas que comercializam ou possuem tratores e máquinas agrícolas devem estar cadastradas no RENAGRO e seguir as normas estabelecidas pelo sistema.
O processo de registro é gratuito e envolve a coleta de informações sobre as características técnicas do equipamento, além dos dados do proprietário. O registro é realizado pela internet, no site do MAPA, e é emitido um Certificado de Registro de Tratores e Máquinas Agrícolas, que comprova a regularidade do equipamento e é necessário para a transferência de propriedade ou para a comercialização.
O RENAGRO é importante para garantir a segurança jurídica das transações comerciais de tratores e máquinas agrícolas no Brasil, evitando fraudes e prevenindo o roubo e o furto desses equipamentos. Além disso, o sistema ajuda na fiscalização do transporte e uso de tratores e máquinas agrícolas, contribuindo para a segurança no campo.
7) Locação ao invés de aquisição:
Há de se considerar a possibilidade da locação de máquinas e equipamentos agrícolas, ao invés da sua compra, para desoneração do imobilizado. É preciso avaliar as condições negociais dessa locação para ver se é financeiramente viável.
Para fins tributários, o investimento em máquinas pode ser deduzido de uma vez no ano da compra, ao passo que na locação, a despesa com aluguel é computada mensalmente, conforme os pagamentos são feitos.
Algumas empresas já oferecem essa modalidade de locação para máquinas e equipamentos agropecuários, e já há estudos sobre planos de aluguel por parte das montadoras de tratores e colheitadeiras.
8) Uso compartilhado de máquinas e equipamentos:
As startups chegaram no campo e já há empresas que conectam proprietários de máquinas agrícolas (tratores, plantadeiras, colheitadeiras, pulverizadores) com produtores que precisam desses equipamentos nas suas lavouras. É um método similar aos aplicativos de motorista e transporte de passageiros.
Mas cabe ressaltar duas situações importantes para considerar uma decisão de utilizar esse tipo de serviço: condições mecânicas, de eficiência e limpeza dos equipamentos a serem utilizados, e disponibilidade dos equipamentos durante os momentos cruciais na lavoura (plantio, manejo e colheita).
A falta ou atraso na disponibilidade de equipamentos, e até mesmo equipamentos sem a devida limpeza podem trazer prejuízos ao produtor rurais, ocasionando a perda do “timing” de plantio e colheita. A falta de limpeza, por sua vez, pode resultar no surgimento de pragas e doenças em lavouras que foram contaminadas por máquinas que não passaram pelo devido processo de desinfecção.
Enfim, dado o seu alto valor, as máquinas e equipamentos usados pelo produtor rural devem ser objeto de gestão patrimonial e operacional adequada, tendo por objetivo maior eficiência operacional, redução de custos e minimização de riscos.
José Luís Bassani é economista, professor universitário e planejador financeiro pessoal com foco em planejamento patrimonial e sucessório para produtores rurais.
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